1. A Ontologia Yogi: Prakriti, Gunas e Causalidade
Na tradição Yogi, Prakriti representa a
substância cósmica original, a matriz de onde tudo emana. Os efeitos não são
externos às causas, mas vivem potencialmente nelas, aguardando o impulso das
energias dos gunas — Sattva (equilíbrio), Rajas (atividade) e Tamas (inércia).
Essa dinâmica causal remete à filosofia aristotélica, que define o movimento
como a atualização do potencial, e à concepção platônica do Logos como razão
estruturante do universo.
Ishvara, o princípio divino, atua como
catalisador dessa transição. Ele é a inteligência cósmica que transforma causas
em efeitos segundo um plano ideal, inscrito na mente divina. Assim, a criação
não é aleatória, mas expressão ordenada de uma vontade superior.
2. Unidade e Multiplicidade: O Holograma da
Realidade
Prakriti, sendo una, manifesta-se em múltiplas
formas sem perder sua essência. O universo é concebido como um holograma, onde
cada parte contém o todo. As Buddhis — almas divinas — são portadoras de
combinações cármicas únicas, tornando-se causas de seus próprios efeitos. Essa
multiplicidade não rompe a unidade ontológica do Ser, mas revela sua capacidade
de expressão infinita.
3. O Caminho do Yogi: Transmutação e Iluminação
O Yogi é aquele que inverte o vetor da criação.
Em vez de expandir-se na multiplicidade, recolhe-se à unidade. Seu caminho é
alquímico: transmutar os elementos psíquicos densos (buthas) em essências sutis
(tanmatras), adentrando o labirinto da mente (manas) para despertar o Eu
verdadeiro (Ahamkara). Ao integrar os opostos, acende a luz interior (Buddhi),
que o conduz à eternidade da natureza ideal de Prakriti.
A criação, nesse contexto, é cristalização da
consciência na matéria. Os desafios existenciais funcionam como fissuras na
estrutura psíquica, permitindo o ingresso da luz libertadora. São nesses
interstícios que o espírito revela sua presença, iniciando o processo de
dissolução das amarras que prendem a alma à roda de Sansara.
4. Maya, Atman e a Ilusão dos Efeitos
A metafísica Yogi afirma que os efeitos são
ilusórios — projeções da ignorância sobre os planos sutis da realidade. O mundo
fenomênico é um sonho do Atman, o Eu supremo, encoberto por véus que distorcem
a percepção da Verdade. Esse equívoco nasce da identificação do Atman com o
mundo material, confundindo-se com os reflexos infinitos de uma existência
aparente.
Maya, o poder da ilusão, sustenta esse teatro
de formas. Ela se manifesta em todos os níveis — do mais sutil ao mais
grosseiro — mas apenas para aqueles que ainda não despertaram para a luz do
espírito. Para os iluminados, Maya é um véu, não uma substância.
5. Carma, Shakti e o Véu da Ignorância
Alguns pensadores afirmam que até o karma é uma
construção ilusória. O Absoluto, sendo consciência pura e eterna, permanece
imutável. A alma, envolta nas reencarnações, é arrastada pelo karma coletivo —
produto das impressões mentais acumuladas pela ignorância. O real, por sua
natureza, não muda, não nasce nem morre. Ele simplesmente é.
O motor desse ciclo é Shakti — o poder criativo
da ignorância. No plano individual, o carma e suas encarnações derivam de
samskaras (impressões inconscientes) e vasanas (hábitos mentais), que moldam a
prisão psíquica onde o Eu verdadeiro se oculta. Esse Eu é conduzido pelo corpo
causal sutil (linga sharira), que carrega as marcas de inúmeras existências.
Os três gunas são fundamentais para compreender
a cosmologia e psicologia do Yoga.
6. Os Três Gunas: Dinâmicas da Matéria e da
Consciência
Na filosofia Samkhya, que fundamenta grande
parte da metafísica do Yoga, Prakriti — a substância primordial — manifesta-se
através de três qualidades fundamentais chamadas gunas: Sattva, Rajas
e Tamas. Estes não são meros atributos, mas forças dinâmicas que operam
em todos os níveis da existência, desde o plano físico até o mental e
espiritual. A interação entre os gunas é o que dá origem à multiplicidade dos
fenômenos e estados de consciência.
Sattva:
Clareza, Harmonia e Iluminação
- Qualidade
essencial:
pureza, equilíbrio, leveza, luminosidade.
- Propriedades: promove discernimento,
serenidade, sabedoria e contentamento.
- Função: eleva a consciência, favorece
o autoconhecimento e a libertação espiritual.
Sattva é a qualidade da lucidez e da verdade.
Quando predominante, a mente torna-se clara, receptiva à sabedoria e capaz de
perceber a realidade além das aparências. É o guna que aproxima o indivíduo da
sua natureza divina, facilitando o despertar do buddhi — a inteligência
espiritual.
Rajas:
Movimento, Paixão e Desejo
- Qualidade
essencial:
atividade, agitação, impulso, transformação.
- Propriedades: gera desejo, ambição,
inquietação e apego.
- Função: impulsiona a ação, promove
mudança, mas também gera instabilidade.
Rajas é o princípio do dinamismo. Ele é
necessário para que a potencialidade se torne ato, mas quando em excesso,
obscurece a mente com desejos e inquietações. É o guna que alimenta o ego (Ahamkara)
e prende o ser à roda de Sansara por meio da ação motivada pelo apego.
Tamas:
Inércia, Obscuridade e Resistência
- Qualidade
essencial:
densidade, escuridão, lentidão, entorpecimento.
- Propriedades: gera ignorância, letargia,
confusão e resistência à mudança.
- Função: estabiliza e dá forma, mas
também limita e obscurece a consciência.
Tamas é o princípio da inércia e da
obscuridade. Embora necessário para a estruturação da matéria e para o repouso,
seu excesso leva à ignorância, ao torpor mental e à estagnação espiritual. É o
guna que mantém o véu de Maya espesso e difícil de transpor.
A Interação dos Gunas
Nenhum guna atua isoladamente. A realidade
manifesta é sempre resultado da interação entre os três. A predominância de um
sobre os outros determina o estado de consciência, o comportamento e o destino
do indivíduo. O caminho do Yoga busca reduzir Tamas, canalizar rajas
e cultivar Sattva, criando as condições internas para o despertar
espiritual.
Gunas e
Libertação
O Yogi, ao compreender os gunas, aprende a
observar suas flutuações na mente e no corpo. Ele não os rejeita, mas os
transcende. A libertação (Moksha) ocorre quando a consciência se desidentifica
dos gunas e reconhece sua natureza como Purusha — o Ser puro, eterno e
imutável, distinto de Prakriti e suas manifestações.
Conclusão
A filosofia Yogi oferece uma cartografia da
mente e da existência que transcende os limites da percepção ordinária. Ao
compreender que os efeitos são ilusórios e que a realidade última é unidade, o
praticante é convidado a atravessar o labirinto dos espelhos da mente,
dissolver os véus de Maya e reencontrar-se com o Atman — consciência pura,
eterna e indivisível. Nesse percurso, o Yogi não apenas se liberta da roda de
Sansara, mas revela a luz silenciosa que habita o núcleo oculto do Ser.
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